Ao longo de minha carreira tive a oportunidade de ouvir os mais variados conceitos que definem o que é liderança. E os mais comuns se voltam para definir “como” líderes devem atuar.

"Seja corajoso, carismático, popular, inspirador". A lista é enorme. Particularmente, gosto da definição do equilíbrio constante entre rigor e generosidade.

Mas a liderança é muito mais do que um exercício de iniciativa e autoridade.

A liderança é um instrumento para que o líder se torne irrelevante.

Enquanto um líder for relevante para seu núcleo de liderados, seu trabalho não estará completo.

Enquanto não houver sucessores formados, tomadas de decisão dependentes de si, direcionamentos necessários a serem dados, o líder ainda não terminou seu trabalho e não está pronto para assumir novas responsabilidades.

O verdadeiro sentido de um líder existir é para que ele se torne, um dia, irrelevante.

Líderes que não entendem seu verdadeiro papel confundem o conceito de “estarem ocupados” com “serem produtivos”. Estão em reuniões, respondendo e-mails, conversando com pessoas. Se tornam máquinas de trabalhar, mas obsoletos na gestão de pessoas. Estão presentes fisicamente mas ausentes espiritualmente.

Exercer a liderança diz respeito a explorar a fundo toda a natureza humana para nos tornarmos seres humanos melhores. Trata-se de um inconformismo recorrente. Entender que somos instrumentos para “atualizar as pessoas para uma versão melhor”.

Líderes devem ser os maiores provocadores do inconformismo humano, pela busca de uma melhor versão, sempre.

Mas como fazer isso?

Em muitos livros você encontrará abordagens que não contribuem, dizendo que líderes devem ditar aos outros o que fazer e como fazer.

É necessário criar momentos mágicos em cada interação. A liderança deve desencadear ideias e emoções. Tocar a alma das pessoas que estão ao seu redor. Conectar as pessoas ao sentido mais profundo de nossas existências.

Por isso, ela deveria ser prazerosa.

Acordar todos os dias e aos primeiros lampejos de consciência perceber que está despertando para mais um dia, com o intuito de fazer os outros serem melhores. 

Liderança é uma dádiva.

É composta por energia, sentimentos, ideias e memórias.

É dar as diretrizes para que alguém chegue melhor ou mais rápido onde se quer chegar.

A intenção de liderar alguém deve ser única: o progresso. Mas não confunda com a tentativa de “extrair o melhor dos outros”.

Quando foca nisso, você está enxergando apenas o presente. Liderança é olhar o futuro. É desenvolver para um mundo melhor. Não tem correlação com metas, alta performance ou resultado. É mobilizar pessoas para serem melhores.

E nesta perspectiva, cada líder acaba tendo o seu próprio jeito de liderar. Assim como suas impressões digitais, únicas, seu estilo de liderança será sempre pessoal. Não existe modelo de liderança a ser replicado. Existe o seu modelo.

Gosto muito de pensar que, assim como o som, que reverbera no espaço de maneira invisível, mas sensitivo, a liderança também é assim. Em muitos casos não é preciso ouvir o líder ou mesmo vê-lo, mas sua energia reverbera pelo ambiente.

E para aqueles que têm dúvidas sobre o verdadeiro sentido da liderança, trago aqui meu último argumento:

Você será lembrado muito mais pelos impactos que gerou nas pessoas, do que pelos resultados que entregou.

Seus indicadores serão esquecidos ao longo do tempo. Um líder será lembrado pelos momentos inesquecíveis de evolução que proporcionou ao seu time.

E liderar com o coração não significa falta de firmeza. Mas é necessário abandonar o conceito de que a liderança precisa ser exclusivamente racional, duro, distante.

Líderes emocionais são inesquecíveis.

Somos feitos de emoções, memórias.

Liderança, acima de tudo, é amor.